Depois de um
longo tempo sem postagens, o blogue do CINE FAMA retorna, dessa vez, discutindo
o tema da adaptação cinematográfica de obras literárias. Serão postados textos
dos integrantes do grupo de pesquisa da FAMA intitulado “Diálogos entre cinema
e literatura” e os leitores estão, desde já, convidados para o debate.
O primeiro
comentário é uma breve “pincelada” acerca do tema em questão. Os próximos
textos deverão abordar filmes brasileiros que se basearam em obras literárias.
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A opinião,
bastante corrente, de que o livro é sempre melhor que o filme não me parece que
tenha a ver com o problema da adaptação em si. O que ela revela é muito mais um
dado acerca da diferença entre a experiência do sujeito enquanto leitor e a
desse mesmo indivíduo como espectador de um filme. O que foi visto (na tela) contrasta
com o que foi imaginado (na leitura) e desse choque entre visão e imaginação
surge um déficit irreparável, razão de sua frustração que, em geral, é
transferida para os responsáveis pela concepção do filme.
Tal não seria
possível, por sua vez, se não houvesse o livro servindo como ponto de
referência para o tipo de avaliação que a opinião a que ora nos referimos
revela. Ou seja, um filme julgado como inferior em relação a um livro poderia
ser muito bem avaliado caso não houvesse a experiência prévia da leitura da
obra literária balizando o julgamento do espectador. Em suma, é essa diferença
de natureza entre a recepção do livro e do filme que repercute na depreciação
de boa parte (quiçá da maioria) das adaptações de obras literárias para o
cinema e não, repetimos, o tipo de adaptação adotado pelos realizadores do
filme.
Como toda
adaptação pressupõe escolha, é preciso estar atento a que critérios se valeram
os realizadores de um filme no processo adaptativo. Isso não tem a ver,
diretamente, com o fato de o filme ser bom ou ruim, pois isso dependerá
exclusivamente de fatores intrínsecos à própria composição do filme. Um filme X
não é ruim porque adaptou mal ou equivocadamente um livro Y, mas sim porque a
linguagem de X pecou em um ou outro componente de sua estrutura estética, razão
pela qual o produto final deixou a desejar.
Há quem possa
preferir um determinado tipo de adaptação a outro. Por exemplo: há aqueles que
preferem ver, no filme, a transposição direta do enredo, dos personagens, a
reconstituição de época no figurino e no cenário do filme etc. Há aqueles para
os quais a adaptação deve ser uma recriação livre a partir do livro,
conservando dele uma ideia, uma sugestão e, em tudo o mais, refazendo-o,
recompondo-o em outros contextos. Qual dos dois tipos de adaptação estaria mais
correto? Nem um nem outro, uma vez que adaptação não é um conceito normativo,
mas sim uma ponte entre duas artes distintas ou, melhor seria dizer, um
“diálogo” entre duas obras.
Estou ciente de
que a brevidade deste comentário negligencia a extensão teórica do debate da
teoria do cinema acerca do problema da adaptação. Mas como a proposta aqui é
falar de filmes e livros (filmes brasileiros que tiveram obras literárias como
ponto de partida), deixarei essas poucas palavras como pontapé inicial da
retomada das postagens do nosso blogue. Aguardem os próximos textos sobre o
cinema nacional e a literatura.
Rafael Quevedo